O preconceito e o acarajé

A Europa conheceu o Brasil em 1.500 e a corte de Portugal nos colonizou. Aqui já éramos habitados por muitas tribos indígenas. A lei que aqui foi criada por nossos colonizadores não servia para a corte, nem para os senhores feudais ou para as pessoas ricas e influentes, servia apenas para aqueles que tinham menor possibilidade de influencia, pobres, índios e negros. Com o tratamento diferenciado entre as pessoas veio a cultura da discriminação. Preconceito e racismo hoje estão impregnados no povo brasileiro.

Você pode até achar que não existe ou que não está dentro de você, mas isto é um engano. Eu mesmo o descobri dentro de mim! Não que eu quisesse ser ou agir de forma diferenciada, mas involuntariamente acabava acontecendo. É ai que entrar o auto conhecimento, o reconhecimento da atitude, o arrependimento e a luta pela igualdade.

É preciso refletir muito sobre isto. Não podemos nos deixar levar pela diferenciação, nem de nos relacionar com pessoas de cor, raça ou etnia diferentes da nossa. Temos que lutar também contra o sentimento que julga os outros inferiores. Quer seja pela consciência preconceituosa ou por estar enraizado dentro de nós, fato muitas vezes não percebido.

Eu tive na infância um amigo muito próximo e um vizinho de outro andar, ambos negros. O amigo era muito chegado. Praticávamos artes marciais juntos e tenho orgulho de dizer que ele era mais forte e rápido do que eu, além do que me defendia se fosse necessário. Passaram-se muitos anos de amizade até que o destino nos afastou.

Meu vizinho era um nigeriano chamado Filipe que tinha uma família muito grande, acho que uns 8 irmãos. Seu pai trabalhava em Brasília e eles mantinham muito viva a sua cultura, rituais religiosos, assim como a culinária. Ele era fluente em inglês e isto era para mim algo distante, haja vista que eu não era um bom aluno nesta disciplina.

Um belo dia minha mãe foi para a chácara buscar frutas e verduras (orgânicas) e eu fiquei em casa com minha irmã. O almoço foi por ela deixado com recomendações de que o que sujasse, deveríamos limpar. A campainha tocou por volta das 14:30 hs, era meu vizinho negro que sempre com uma alegria contagiante vinha nos fazer uma visita.

Papo vai papo vem (eu tinha 13/14 anos e ele uns 18 com cabeça de 14), fomos parar na cozinha com ele tentando me explicar como fazer um prato típico da sua cultura. Surgiu mímica, interpretação, tentativa de tradução, abertura de porta de armários, uma busca frenética pelos ingredientes que ele julgava ter em minha casa para fazermos o prato tradicional do seu país.

Encontrei o feijão fradinho já dormido em uma vasilha com água, peguei o sal e alho… Mas faltava um ingrediente de nome complicado. Ele tentou em inglês, na sua língua tribal, em português nem pensar pois era difícil para ele e depois de muito tentarmos ele acabou desenhando uma cebola. Hahahaha engraçado pois já se passavam quase 10 minutos de procura e lá estava a querida cebola desenhada, ingrediente indispensável para o preparo.

Como chegamos ao preparo não me lembro, ele cuidou de tudo. Mas da panela eu me lembro, ela esquentou quatro dedos de óleo e eu seria frito dentro dela pela minha mãe, obcecada por limpeza, quando uns bolinhos de feijão foram cuidadosamente colocados na gordura quente para fritar. Assim eu conheci o acarajé de um país do outro lado do Atlântico.

O acarajé ficou na memória e quando me mudei para Ilhéus-Bahia, onde nasceu minha segunda filha, me realizei em preparar algumas vezes o prato inesquecível com camarão seco, vinagrete e vatapá.

O prato é rico em sabores e também muito perigoso quando comprado na rua, onde é muito comum ter sido feito com gordura saturada, um veneno para o coração e intestino. Eu mesmo levei alguns brasilienses de passagem por Ilhéus para comer e que depois de algumas horas se arrependeram. Claro que com o tempo você aprende onde é seguro comer e o passeio tornou-se uma alegria.

Comer acarajé na Bahia é maravilhoso. O prato feito em casa com todos os detalhes dá trabalho e, claro, você pode fazê-lo com menor quantidade de azeite de dendê, assim fica mais leve. É um prato muito saudável, mas como última advertência, aviso que o prato é altamente calórico, aproximadamente 577 cal por uma unidade de 200 g. Então acarajé serve como um almoço.

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